SHORT SUNDERLAND MK III

Kit Airfix Ref.6001

Escala 1/72

 

 

 Por Victor Tavares

Fotos: Heliandro Abreu Rosa

 

Introdução

 

Com certeza, os hidroaviões não foram uma unanimidade. Tampouco podiam ser considerados bonitos e, quase sempre, cumpriam suas missões anonimamente, resgatando aviadores à deriva, quer seja no Canal Inglês, ou em algum remoto ponto no Oceano Pacífico, sem mencionar nas incontáveis e solitárias horas de patrulhas sobre todos os mares onde a guerra havia alcançado, onde o frio, calor, fome, medo e as intempéries foram as únicas testemunhas destes bravos heróis, que como coadjuvantes, tripularam esses incríveis aviões, que ajudaram a escrever um dos capítulos mais importantes da História da Segunda Guerra Mundial. A estes pilotos e tripulantes e todos aqueles que estiveram envolvidos em operações com hidroaviões durante a Segunda Guerra Mundial, dedico esta matéria. Aonde quer que estejam.

 

Histórico

 

O desenvolvimento do Short Sunderland, remonta a especificação R..2/33 de 23 de novembro de 1933 do Ministério do Ar inglês (Air Ministry), para desenvolvimento de um monoplano hidrobote quadrimotor, com fito de substituir os diversos biplanos hidrobotes em serviço na Real Força Aérea, resultando em uma competição entre dois fabricantes: Shorts Brothers Aircraft e Saunders Roe Co. Por fatalidade, o protótipo desta última sofre grave acidente e, a Shorts Aircraft, apresentou uma versão relativa (não derivada) dos aviões do tipo "C- Class" que operavam as rotas Imperiais até o Extremo-Oriente desde o início dos anos 30. De fato, era o S.23 "Empire Flying Boat Airliner" o vencedor da concorrência.

 

O vôo inaugural do primeiro Sunderland de produção foi em 21 de abril de 1938 e entregue ao MAEE (Marine Aircraft Experimental Estabilishment) em Felixstowe, e ao final de novembro de 1938, já haviam duas unidades operacionais de Sunderland, dando início a uma carreira de 21 anos na Real Força Aérea no famoso Comando Costeiro (Costal Command), durante toda a Segunda Guerra Mundial, sendo conhecido entre os pilotos da Luftwaffe como "flying porcupine" ou porco espinho voador. Serviu na Guerra da Coréia em missões de patrulha e reconhecimento, tendo sido retirado de serviço da RAF o último dos Shorts Sunderland em 30 de junho de 1959. Entretanto, os Sunderland ainda prestariam bons serviços a Real Força Aérea Neozelandeza (RNZAF) e Australiana, esta última a retirar de serviço o último aparelho em 1969, bem como na Marinha Francesa, que operou este magnífico pássaro desde novembro de 1945 até 1960, quando substituiu o patrulhamento costeiro em Dakar, pelo não menos magnífico P5M - Martin Marlin.

 

O Kit

 

O Kit é o venerando 1/72 da Airfix, que foi inicialmente lançado em 1960 e ainda hoje é o único Short Sunderland nesta escala disponível no mercado. Moldado em estireno branco, com 160 peças, as linhas são típicas dos anos 60; altas com rebites proeminentes e com as superfícies de controle móveis. O aspecto geral do modelo, no entanto, é bastante bom e se presta a realizar uma boa representação do que era o avião real, mesmo com poucas (mas imprescindíveis) modificações que seguem:

 

MOTORES E ESCAPAMENTOS:Os motores do Kit são moldados em uma única peça, que além de impreciso no formato, sequer foram representados cilindros, bem como a caixa de transmissão (crankcase) e devem ser desconsiderados, se desejar o modelista buscar uma representação mais fiel do avião. Para isso, a sugestão é a cópia do motor Bristol Pegasus XVIII de 1065 Hp em resina e metal branco, feito pela Aeroclub. Mais uma dica: os escapes de metal não são furados, então é necesários perfurá-los com broca fina.

 

TRANSPARÊNCIAS: São, com efeito, o que mais necessita ser trocado. Não há "frames", e são praticamente inúteis, notadamente quanto ao "canopy" que clama por ser substituído. Para isso existe o set de vacumform nº 22 da Falcon parte 4.

 

 

 

A Montagem

 

As hélices, estavam todas quebradas na raíz junto ao "spinner". Após um trabalho de recuperação das mesmas, examinando o kit verifiquei que não existe "cockpit", apenas dois tocos de plástico representando os assentos do piloto e co-piloto. Para tanto, tive que valer de toda documentação que dispunha à época da construção do modelo, construíndo do "zero" tudo que estivesse visível, tais como novos assentos, painel de instrumentos, colunas de controle, consoles, manetes etc. Para isso utilizei tiras de plástico GPG e placas de plástico 1 milímetro da Evergreen.

 

Após confeccionado o cockpit, as montagens à seco apresentavam grande discrepância entre o encaixe da fuselagem com o dorso da asa. Assim, recomendo colar os dorsos das asas à fuselagem, antes de fechar as duas metades da mesma. Assim, ficarão alinhadas e o encaixe será exato, sem frestas. Antes da união das metades da fuselagem, é necessário o polimento de todas as janelas redondas. No processo, se perde espessura, então é necessário cobrí-las, depois de instaladas (por fora) com discos de acetato. O polimento tem que ser pelo lado de fora, já que existem afundamentos em todas as janelas  (trabalho de presidiário...mas vá lá). Depois de tudo, cole, por último o extradorso das asas, a parte superior já fixada. Algum "filler" será preciso, mas pouca coisa. Use o "putty" de sua preferência.

 

 

A empenagem traseira foi montada no modo tradicional, cuidando apenas para fixar em posição "neutra" os profundores e deriva. Oa ailerons foram mantidos, igualmente em posição neutra.

 

Quanto as torres de metralhadoras, todas eram de calibre 0,303. Para representá-las com alguma fidelidade, perfure os canos e acrescente as cintas de munição em escala 1/72 do set da dRdesign , disponível na Hobbycraft. Mais uma vez a documentação é importante, desta vez, pela falta de maiores detalhes, procurei fazer estruturas simples, conforme eu podia perceber das fotos da época. Tudo feito com placas finas de plástico, desta vez, com placas de 0,5 milímetros da Evergreen. O resultado foi bastante aceitável.

 

Depois da totalidade do "airframe" concluido, foi realizada a fixação do canopy vacu-formed e a instalação das torres de metralhadoras (sem armas), partindo, agora para os flutuadores, que foram grande  dor de cabeça, pois preferi usar fio metálico ao invés de sprue para representar os tirantes de tensão dos flutuadores. Quando eu acertava a fixação de um lado, estourava o estamento já colocado. Um inferno! Usem sprue, é bem mais fácil.todavia, fica ao critério de cada modelista. O diagrama para fixação exata dos tirantes, encontra-se na página 102 da publicação da Osprey, Série Combat Aircraft nº 19, Sunderland Squadrons.

 

As superfícies de controles foram fixadas e os ailerons ganharam atenção especial, eis que no avião real, os atuadores são visíveis. Para isso, foi utilizado fios de metal finos e tiras de plástico da GPG.

 

Para instalação do radar ASV, não disponível no Kit, foi feito um molde de Durepoxi, em forma de gota, e em processo de " thermoplast" (vacumform caseiro mesmo), foi representado os radomos e estes  fixados na ponta do extradorso de cada asa.

 

Linhas altas ou linhas baixas? Eis a questão

 

Como dito, o modelo, possui linhas altas com rebites salientes. Mas o que fazer?? Para aqueles acreditam que o mais correto seriam linhas em baixo relevo a dica é simples: Lixar tudo até o zero, e "escrever" os rebites e linhas com um bom scribber. Tenho certeza que tal trabalho recompensará quem o fizer, contudo, acredito que é apenas necessário, abaixar os rebites com lixa fina (1000 e 2500) 3M, e dar a "ilusão" de profundidade, reescrevendo os perfis da deriva, torreta de proa e dorso da fuselagem. Afinal, todo e qualquer avião parece maciço, e apenas ao exame mais de perto é que se percebe as emendas dos painéis de alumínio. Na escala 1/72, poder-se-ia adimitir até a não representação dos rebites, contudo, por questões estéticas sugere-se conservar os rebites até um limite razoável, sem perder a profundidade do modelo. Todavia, fica ao critério do modelista.

 

PINTURA

 

Para pintar o modelo, optei por um fundo automotivo da Renner, e com bom polimento, apliquei um "sobre tom" de branco AS-20 da Tamiya (US Navy White), para ajudar na fixação do pigmento, desta vez o definitivo, Tamiya X-2 (três camadas), com secagem "overnight" entre as camadas. O resultado foi um Branco brilhante e puro, que mais tarde será a tela para o envelhecimento e desgaste do modelo. As partes superiores foram mascaradas com uma variação da pintura usual dos esquadrões de Sunderlands em Castle Archdale, com as tintas FS 34079 e RAF Dark Slate Gray, ambas da acrílicas da Modelmaster, seguindo o padrão de camuflagem de dois tons da RAF. Algumas versões do Sunderland não eram camufladas em dois tons. Para representar tal camuflagem, apenas usar o RAF Dark Slate Gray nas mesmas áreas indicadas pelas fotos.

 

Para o desgaste foi aplicado, micromesh 5000, onde a tinta branca, ficou levemente descascada. Apliquei este processo nas áreas de maior desgaste, conforme documentação, notadamente acima da linha dágua e perto dos cabides de bombas, onde havia grande desgaste. Para a marca dágua, utilizei técnicas de pintura, ou pelo método mais simples: café bem forte. É isso mesmo, aquele café bem forte, quase uma tinta. Para aplicá-la, basta embeber tiras de papel-toalha no café já frio, que por tensão superficial esta irá aderir ao casco similando a linha dágua. isto deve ser feito em toda extensão em contato com a água. deixar secar por todo dia e, caso necessite marcar mais, basta pincelar o café diretamente  sobre a tira de papel toalha. O resultado é prático, salva muito tempo e fica bastante convincente.

 

Para pintura dos trens de atracamento, a cor correta é prata pintado, ou amarelo. Desta vez, utilizei o XF-3 da Tamiya que com o polimento, fica acetinado. Aplica-se um "wash" de sombra queimada com sépia (tinta óleo da Acrilex) e giz pastel seco preto para simular oxidação da tinta e exposição do fundo anti-corrosivo. Para o atracador na ré do avião, a cor é Insignia Red, com o mesmo wash. Adimite-se amarelo ou prata pintado para tal equipamento.

 

 

Decais

 

Os decais são do próprio kit e representam o avião 2G/DD-967, do esquadrão 423, baseado em Castle Archdale, Irlanda do Norte, operado pela Real Força Aérea Canadense. O registro é bom, com filme acetinado, que deve ser trimado, tanto quanto possível, para evitar efeitos deletérios já conhecidos. Possuem boa aderência. Utilize Microsol que fica melhor ainda. Após a fixação dos decalques, foi aplicado uma fiba camada de verniz forsco dullcote da Testors, selando toda a superfície.

 

Montagem final

 

Após a montagem principal, aplicação do "wethering", montagem dos flutuadores e seu estamento (com fio metálico, no caso), as luzes de navegação foram instaladas, motores, hélices, assim como mastros de antenas e pitots, resultando num projeto que foi laborioso, mesmo com modificaçõres básicas, que consumiu 85 horas, mas de pura diversão.; Afinal de contas, o que vale é a diversão.

 

Agradecimentos

 

A todos os sócios e amigos do Museu Wonderland, em especial aos amigos Flávio Azevedo, pelo incentivo e pela crítica generosa e sincera e a Heliandro Rosa, pelas fotos deste "Review". E a minha esposa, pelas horas de convívio que lhe são tomadas em prol do modelismo.

 

 

PER ARDUA AD ASTRA

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