U-Boot Typ VIIC - Revell 1/72 (Ref.5015)

 

Com grande euforia os modelistas do mundo todo receberam em 2004 a chegada do lançamento da Revell Alemã de seu modelo de submarino alemão U-Boot Typ VIIC, na escala 1/72.

Como não podia ser diferente, o mesmo fenômeno ocorreu no Brasil com a importação deste que se converteu num sucesso absoluto de vendas, sendo comercializado para todo o país pela Hobbycraft.

 

O modelo é injetado em plástico cinza e logo se destaca pelo seu grande tamanho (93cm) e pelo excelente nível de detalhamento das partes. O manual de instruções é claro e possibilita a construção de 5 barcos diferentes nas configurações iniciais e posteriores, incluindo alterações na torre ("Castelo") e casco.

Como todo o modelo produzido industrialmente, apresenta algumas "simplificações" em relação ao real, sendo a mais notória neste caso a representação das aberturas nas laterais do casco simplesmente rebaixadas e não vazadas como deveriam. Provavelmente esta solução foi adotada para não comprometer a estrutura das peças do casco principal, dado seu tamanho.

É oferecida a possibilidade da construção das portas dos torpedos de proa nas posições aberta ou fechada, mas em contrapartida a representação da saída do torpedo de popa é bastante pobre.

A estrutura do deck principal é muito bem reproduzida, com todos os elementos e portas de acesso bem definidos.

Há duas opções de torre, que devem ser atentamente observadas para que a escolha seja compatível com o barco que se deseja representar.

Os encaixes das peças são, na maioria bastante bons, requerendo pouco ou nenhum emassamento.

De uma forma geral, o modelo não apresenta nenhuma dificuldade de montagem, porém a idéia inicial de que pode ser construído rapidamente é um tanto ilusória.

 

O Barco

 

O Typ VIIC foi o modelo de submarino construído em maior quantidade pela Alemanha no período da Segunda Guerra, com aproximadamente 659 unidades, dentre as quais algumas se destacaram nas mãos de hábeis comandantes e se tornaram o terror dos Aliados no Oceano Atlântico e no Mediterrâneo.

 

 

Durante seu período operacional, inúmeras alterações foram introduzidas, com a subtração de elementos e adição de outros.

Os "corta-cabos", heranças dos modelos da Primeira Guerra, foram removidos por se verificarem inúteis, novas antenas de rádio foram adicionadas e o armamento anti-aéreo da torre foi aumentado em decorrência da necessidade de defesa contra as aeronaves de patrulha em número crescente a partir de 1941. Em contrapartida os canhões 88mm do deck começaram a ser removidos. Pode-se dizer que, praticamente, não há nenhum Typ VIIC construido exatamente igual a outro.

Foi produzido até 1944, quando deu lugar a construção de modelos mais modernos.

 

O Modelo

 

 

Um dos modelos mais conhecidos de U-Boot é o U-96, comandado no período de Setembro de 1940 até Abril de 1942 pelo capitão Heinrich Lehmann-Willenbrock. Neste barco, o escritor Lothar-Ghünter Buchheim realizou uma patrulha como Correspondente de Guerra, o que resultou no livro "Das Boot", posteriormente transformado em filme (O Barco).

Este submarino permaneceu em operação até 30 de Março de 1945, quando foi afundado em Wilhelmshaven por bombardeiros americanos da Oitava Força Aérea. Durante seu tempo de serviço afundou 28 navios, num total de 190.000 toneladas, incluindo os transatlânticos Oropesa e Almeda Star, além de outros 4 danificados perfazendo outras 33.000 toneladas.

Seu emblema característico é o "Peixe Sorridente".

 

A Montagem

 

O casco

 

A primeira medida a ser tomada para a construção do kit é a abertura de TODOS os orifícios das laterais do casco, pois sua representação através de uma simples pintura escura tentando reproduzir profundidade, resulta numa aparência lamentável, como pode ser visto em vários modelos apresentados nos sites de modelismo. É um trabalho penoso, pois requer tempo e sobretudo muita atenção para não danificar a parte externa do casco. A execução pode ser feita com um motor elétrico (tipo "Dremel") utilizando uma lixa cilíndrica para rebaixar o plástico interno do casco, fazendo-o contra a luz para que se observe com clareza a redução da espessura até que as aberturas do kit fiquem aparentes. Após, com uma broca esférica, é procedido o rebaixamento individual de cada orifício até chegar a espessura em escala da chapa metálica da lateral. Um ponto de perigo é a abertura das grelhas entre as portas dos torpedos, que são extremamente finas e em qualquer descuido são destruídas (tive que reconstruir duas delas!)

Isto feito, a montagem do casco ocorre sem problemas, utilizando as estruturas internas fornecidas (peças 12 e 13) e inserindo os elementos dos torpedos de proa.

Como o interior se torna em parte visível, é necessária a construção da parte superior do casco de pressão e dos elementos instalados sobre ele. Uma chapa fina de poliestireno, moldada em forma cônica, foi colada internamente nas laterais, abaixo dos orifícios de escape de água, seguindo a linha do casco interno de acordo com os desenhos fornecidos no livro "U-Boats In Action" - Squadron/Signal Publications. Sobre esta chapa foram instalados os tubos extras de torpedos, as escotilhas de acesso interno e os canos de escapamento dos motores Diesel na parte posterior do barco. Todas estas partes foram então pintadas em preto fosco, mas somente foram instaladas em definitivo após a pintura externa das laterais para evitar a penetração da tinta da cor externa no interior. Isto foi feito deixando a colagem do deck principal para uma etapa posterior, já que o ajuste deste em relação às metades do casco é bastante bom.

Os elementos externos do casco inferior são bastante fáceis de instalar, requerendo apenas cuidado em seu alinhamento. Para facilitar a montagem, a colocação dos lemes de direção, aquaplanos e hélices foi deixada para o final. 

 

 

A torre

 

A montagem da torre foi feita igualmente de forma independente do resto do modelo, deixando sua colagem ao casco para a última etapa do trabalho. Nesta, são necessárias algumas alterações, já que as peças oferecidas no modelo são extremamente básicas. A estrutura do periscópio, por exemplo, pode ser bem mais detalhada com a adição dos elementos metálicos (alças e suportes para pés). As paredes internas da torre eram revestidas com pranchas de madeira (para evitar o contato da tripulação com o metal gelado) e estas são reproduzidas de forma muito simplificada no modelo. Sua substituição por madeira real, cortada em tiras e colada sobre as laterais internas resulta numa aparência bem mais convincente.

A utilização dinâmica proposta pela Revell para os tubos dos periscópios foi descartada, já que apenas complicaria o acabamento. A opção foi prepará-los para que pudessem receber os periscópios pelos topos ao final da montagem do modelo.

O periscópio principal foi também modificado com a adição dos fios de estabilização instalados de forma helicoidal.

No canhão anti-aéreo, a mudança mais premente é a substituição do cano por um metálico com diâmetro menor e a alteração dos apoios do artilheiro, que no kit são bastante grosseiros.

 

O deck

 

 

 

As peças principais do deck (3) fornecidas no modelo são bastante detalhadas e não necessitam modificações. Alguns elementos complementares podem ser substituidos ou refinados para uma melhor aparência.

Como o canhão 88mm é um elemento destacado sobre o deck, podem ser introduzidas melhorias, como a corda enrolada sobre o cano, que servia como presilha para a tampa da boca do canhão.

A instalação das peças do deck, previamente ajustadas ao casco, foi feita após a pintura das laterais e algum preenchimento com massa plástica foi necessário em especial na proa do barco. Para que a colagem não danificasse as peças já pintadas, o aperto necessário das laterais em relação ao deck foi obtido com cintas de papel tracionadas com fita crepe e alguns prendedores de roupa especialmente modificados para a fixação dos trechos da proa, onde o encaixe do kit não é tão bom.

Após a colagem do deck, foi procedido um ajuste da torre sobre este para que a colagem ao final do trabalho não apresentasse nenhuma surpresa.

Da mesma forma que os elementos do casco inferior, as estruturas do deck superior foram pintadas mas somente instaladas na fase final da montagem.

 

 

 

A Pintura

 

A pintura das partes superiores dos cascos e torres dos Typ VII não obedecia um padrão único. Pelo menos três tonalidades de cinza podem ser encontradas. A mais comum, Hellgrau 50, é um cinza claro com tonalidade entre os FS 36375 e 36492.

Outras duas tonalidades de cinza utilizadas são Dunkelgrau 51 (FS 35237) e o Schlickgrau 58 (um pouco mais escuro do que o FS 36134).

Para a metade inferior do casco, uma pintura anti-algas (Schiffsbodenfarbe III) tinha uma côr cinza escura com tonalidade azulada, entre os FS 35042 e 36076. Com o tempo de uso, esta côr tendia a clarear e esverdear em função da permanência na água. A indicação, em algumas fontes, de pinturas vermelhas para as partes inferiores do casco dos Typ VIIC é incorreta, bem como a aplicação de uma faixa preta entre as duas côres parece também ser inexistente. As indicações de pintura nas instruções do modelo são fieis neste ponto.

Os decks dos Typ VIIC eram construídos em madeira e sobre esta aplicada uma pintura protetora preta, que igualmente desbotava com a utilização criando um aspecto acinzentado com tons de marrom.

Após a colagem do deck ao casco, foi realizado o mascaramento das laterais com fita Tamiya e aplicada a côr do deck. Uma vez seca a tinta, foi iniciado o (árduo!) trabalho de preencher as reentrâncias do deck com tinta preta fosca (Tamiya XF-1) para criar o efeito de sombra. Como acabamento, uma leve lixada com abrasivo fino 3M e após uma camada (aplicada com o dedo) de giz pastel seco marrom para o efeito de madeira, exceto nas partes metálicas da proa e popa.

Neste modelo foram utilizadas tintas Gunze, Testors, Humbrol e Tamiya.

Para a metade inferior do casco foi aplicada a Laca Gunze GUC301(FS 36081), que serviu também de fundo para todo o casco e torre. A vantagem deste tipo de tinta é o cobrimento uniforme e semi-brilho, além de uma secagem muito rápida. Sobre esta, na metade superior do casco e na torre, foi utilizada a côr Testors 2035 (FS 36173), e para o deck a escolha recaiu sobre a HU067, escurecida com preto fosco Testors TS1749.

Outras cores utilizadas no modelo:

Piso metálico da torre: mesma côr do deck de madeira

Periscópios, estruturas metálicas do deck: TS2035

Antena circular retrátil: preto semi-brilho (Tamiya X-18)

Isoladores das antenas em cabo: marrom

Hélices: bronze antigo (HU171)

Canhão 88mm: base em cinza e arma em preto. Detalhes em gunmetal (HU8189)

Canhão anti-aéreo: gunmetal (HU8189); base em TS2035

Ancora: cinza metálico escuro

Luzes de navegação: clear red/clear green

Para o decal característico do U-96 foi utilizada a folha 72001 da U.L.A.D., produzida na Alemanha, que traz ainda opções para outros 15 U Boats!

 

Os Acabamentos

 

Como em todo o barco que permanece muito tempo no mar, a ferrugem é um elemento sempre presente.

Neste caso, a opção foi realizar uma réplica ainda pouco atingida pelo desgaste, para que o efeito não sobrepusesse a pintura principal. Para tanto foi utilizado giz pastel seco na tonalidade vermelho-alaranjado, aplicado com palitos com a ponta envolta em algodão e um pincel velho, cortado junto à raiz das cerdas para agir como uma pequena escova.

É uma tarefa demorada devido à extensão das superfícies a serem tratadas (praticamente 2 metros lineares de casco).

Em algumas partes, sobretudo abaixo da linha d'agua, a aplicação foi feita com um pouco mais de peso, em especial na área dos propulsores e lemes de direção. Também no compartimento da âncora, a ferrugem foi aplicada com maior intensidade.

Novamente o giz pastel, desta vez em tonalidades de cinza, foi utilizado para simular as manchas de saída d'agua nas aberturas do casco, sem exagerar no efeito.

Um dos acabamentos mais desgastantes do modelo é a instalação das antenas em forma de cabos. A linha suprida no kit para isto é inútil, pois sua textura é extremamente felpuda e nem o cobrimento com cola ou tinta resolve. A solução foi adotar uma linha encerada, encontrada por acaso na caixa de costura doméstica, que representa bem o trançado do cabo sem os inconvenientes pelos das linhas de algodão comuns. Sobre esta foi aplicada uma camada de grafite e após, novamente, o giz pastel na cor ferrugem.

Os isoladores (em conjuntos de 3) fornecidos no kit podem ser utilizados, desde que seja feita uma melhora em seu acabamento.

A fixação das linhas nestes é feita através de um orifício e a colagem com cola cianoacrilato deve ser feita de forma que o centro do cabo fique alinhado com o centro do isolador, e não como indicam as instruções, que fazem os cabos passarem por cima do conjunto de isoladores.

A pior parte é a ligação das antenas com a torre: as instruções sugerem a abertura de um furo de 0.5mm na aba lateral do castelo e por ele passar uma única linha reproduzindo as antenas trazeiras e a frontal.  Na verdade é necessária a construção de uma série de pequenas peças conectoras e ganchos já que as antenas traseiras são independentes do conjunto frontal.  Isto pode ser feito com a utilização de fios metálicos finos, dobrados em forma de "U" e fechados junto aos cabos, utilizando tubos ocos (cargas de esferográficas esticadas com calor) como acabamento nos terminais. Esta parte é extremamente visível no modelo e adoção da solução simplista do fabricante prejudica bastante sua aparência.

 

   

 

Um dos elementos mais negligenciados nos modelos vistos até agora é o fino cabo de ligação da estrutura dos aquaplanos ao casco. Ao olharmos com atenção as plantas existentes podemos verificar sua posição correta.

Ao proceder os acabamentos finais há que se ter muito cuidado ao movimentar o modelo, pois por seu comprimento é muito fácil esbarrar em algo fora do campo de visão e causar danos ao trabalho já feito. Um conselho a quem pretende iniciar a construção: providencie uma mesa grande!

 

O Display

 

 

 

A base fornecida pela Revell para exposição do Typ VII é extremamente simples e não faz jus à imponência do modelo.

Para o U-96 foi feita uma base em madeira Louro Freijó e sobre esta, foram colocados uma série de perfis de madeira 8x8mm, alinhados paralelamente, similares aos utilizados para suporte do casco dos submarinos quando em manutenção em "doca seca". Estes apoios serviram como elemento fixador do casco, o que ajudou bastante a manipulação nos acabamentos finais, evitando o manuseio do modelo, o que invariavelmente deixa marcas mesmo com a utilização de luvas de látex.

 

 

 

 

Considerações Finais

 

O kit produzido pela Revell é uma excelente opção à quem deseja possuir em sua coleção uma boa réplica de um famoso tipo de barco de combate da Segunda Guerra Mundial. Oferece inúmeras opções de representação, principalmente considerando a grande quantidade de acessórios complementares que surgiram especialmente em função deste kit, já disponíveis no mercado. Uma das melhores opções é o Set de Detalhamentos produzido pela Warhammer Productions.

Seu único inconveniente são as dimensões, que necessitam de uma área de pelo menos 1.00 x 0.15m para que possa ser exposto.

 

 

Agradecimentos

 

Gostaria de manifestar meu agradecimento aos grandes amigos Heliandro Rosa pela autoria das fotos desta matéria e pela constante troca de informações durante a montagem do kit, e Nei Biazetto, cuja literatura foi imprescindível na obtenção de muitos detalhes do modelo, e também aos participantes do Fórum uboat.net, pelas preciosas informações sobre os U-Boats.

 

Flavio Azevedo

 

Setembro, 2004

 

         

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